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Mestre João Dias, especialista internacional em Segurança Pública, Defesa Pessoal Policial & Militar

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Quando o Dojo Adoece: Resgatando o Legado dos Mestres em Meio aos Piratas Marciais.

 Quando o Dojo Adoece: Resgatando o Legado dos Mestres em Meio aos Piratas Marciais.

Por João Dias, Jornalista e Mestre - Policombat News


O tatame, para nós, sempre foi mais do que um espaço de treino. É um santuário. O dojo é o templo onde o corpo se verga para que o espírito se eleve. As artes marciais, em sua essência milenar e em suas manifestações contemporâneas, foram forjadas não apenas em técnicas de combate, mas em um alicerce de valores que transcendem o físico. Falo da disciplina que molda o caráter, da dedicação que transforma o suor em sabedoria, do amor que nos une como irmãos de caminho e, acima de tudo, da honra. A honra, acredito, é a mais alta nobreza, o fio de ouro que costura o código de um verdadeiro guerreiro.

Contudo, o que atestamos hoje é uma profanação deste solo sagrado. Uma corrosão surreal que avança silenciosa e, por vezes, descaradamente. As artes marciais estão contaminadas por elementos podres, e a cada dia, como uma ferida que não cicatriza, algum tipo de podridão floresce. O mais desolador é ver bons profissionais, homens e mulheres de valor, sendo arrastados por essa correnteza de mediocridade, contaminando-se por omissão ou conveniência. É uma tristeza profunda, um espetáculo horrendo que reflete, em nosso microcosmo, a decadência ética que observamos em esferas maiores, como na política e em setores da justiça brasileira.

Como profissional que circula neste meio, a avalanche de imoralidade que chega aos nossos ouvidos e olhos é diária. Às vezes, surge de forma discreta, um sussurro de má-fé; na maioria das vezes, porém, a desonra se apresenta abertamente, sem pudor. Os "motivos" são tão patéticos quanto injustificáveis: a inveja de um profissional pelo sucesso do outro; a disputa por um "território" imaginário, como se a sabedoria tivesse dono; a "concorrência" delirante que cega e semeia a discórdia.

E então, chegamos a uma das mais tristes fraudes: a autograduação. Profissionais que, em busca de um reconhecimento vazio, alegam ter mais de trinta anos de faixa preta sem apresentar um único documento, uma única fotografia, um único testemunho válido. Quando fazemos as contas, a matemática não mente: para ter o tempo de prática que reivindicam, teriam recebido a faixa preta ainda no ventre materno. Eu os chamo de deformados cognitivos marciais.

Pior ainda são os estelionatários marciais. Aqueles que, com uma audácia espantosa, afirmam ministrar aulas desde os doze anos de idade. Uma criança, desprovida da maturidade e da vivência necessárias para guiar outros, já se posicionando como mestre. É terrível. A lista de absurdos é infindável, incluindo os mais velhos, os autoproclamados "mestres", "grandes mestres", os "gurus supremos pica das galáxias", cuja maior habilidade marcial é a prática da fofoca, da maledicência e da inveja. Vivem de mentiras, de enganação, vendendo certificações como se fossem mercadorias baratas. O que importa é somar, ciscar para dentro, e administrar a própria insignificância. O que mais exaure a alma não é o treino duro, mas ter que circular em meio a estas situações que, para muitos, infelizmente, já se tornaram "normais".

Ouso dizer que mais de 50% do universo marcial está contaminado por estas doenças, que parecem incuráveis pela total ausência de fiscalização e penalidades severas. E assim, presenciamos o impensável: os bons convivendo com os ruins, muitas vezes por culpa de outros "bons".

A Alma Lavada: A Esperança Resiste

Por um lado, confesso, observo este cenário e perco a esperança de cura para o lado podre. E por quê? Porque muitas entidades sérias e profissionais honrados, em nome da arrecadação, fazem vista grossa. Abrem as portas de seus campeonatos, cursos e congressos para os indignos, permitindo que a mentira se sente à mesma mesa que a verdade.

Mas então, eu olho para o outro lado da balança. E lá, vejo a banda de ouro. O lado maravilhoso.

Existe um batalhão de homens e mulheres extraordinários, os verdadeiros profissionais, que ainda equilibram a jornada do bem contra o mal marcial. Eles são a razão pela qual a chama não se apaga. São tão especiais, tão firmes e fortes em seus propósitos, que conseguem manter viva, com maestria e excelência, a alma imortal das artes guerreiras. São os herdeiros dos verdadeiros forjados na dedicação, na determinação, na disciplina férrea; no sangue que pulsa com o kiai, no suor que encharca o kimono, no esforço máximo movido por um amor incondicional pelo Caminho.

Graças a Deus, eles existem. Eles nos trazem a alegria da técnica perfeita, o conforto da amizade leal e a sabedoria de projetos que transformam comunidades. Trazem conhecimento, orientação e ensinamentos que ecoam para além do tatame, para a vida.

Portanto, tenham certeza: chegará o momento em que estes grandes, estes bons, estes maravilhosos e verdadeiros Grandes Mestres se levantarão. Será um levante uníssono contra a tribo dos piratas e estelionatários marciais. E neste dia, não tenham dúvida, seremos nós a gritar o comando. E sob nossa força, afundaremos para sempre os navios desta escória da sociedade marcial. A honra voltará a ser o nosso único norte.

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